O presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), determinou a prisão em flagrante de Abraão Lincoln Ferreira, presidente da Confederação Brasileira dos Profissionais Autônomos (CBPA), ao final do depoimento desta segunda-feira (3). A decisão ocorreu após o relator do colegiado, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), acusar o depoente de mentir e omitir informações durante a oitiva.
Segundo Gaspar, Lincoln apresentou versões contraditórias e omitiu fatos relevantes, inclusive sobre o motivo de sua saída da Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores (CNPA). O dirigente declarou ter renunciado ao cargo, mas, conforme documentos obtidos pela CPMI, foi afastado por decisão judicial. Ele também teria mentido ao afirmar desconhecer Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS” — apontado como um dos principais articuladores do esquema de fraudes —, mas acabou admitindo o vínculo em outro momento da sessão.
O relator ainda destacou inconsistências nas informações sobre a relação de Lincoln com o tesoureiro da CBPA, Gabriel Negreiros, e sobre a procuração concedida a Adelino Rodrigues Júnior, que possuía amplos poderes para movimentar recursos da entidade.
Durante o depoimento, Abraão Lincoln permaneceu em silêncio em grande parte das perguntas, o que gerou críticas dos parlamentares. Carlos Viana o advertiu diversas vezes para que colaborasse com a comissão. “O senhor teve diversas oportunidades para falar a verdade, mas não quis”, afirmou o presidente, antes de autorizar a prisão.
A CPMI investiga suspeitas de fraudes em descontos associativos no contracheque de aposentados e pensionistas. Segundo o relator, a CBPA registrou um aumento explosivo no número de filiados — de apenas quatro em maio de 2023 para 757 mil em 2025 —, além de tentativas de cadastrar cerca de 40 mil pessoas já falecidas. O levantamento aponta que a entidade recebeu R$ 221 milhões em descontos, com média mensal de até R$ 11 milhões, e realizou pagamentos milionários a empresas ligadas a outros investigados, como a Plataforma Consultoria (R$ 25 milhões) e a Titanium Pay (R$ 15 milhões), sem comprovação dos serviços prestados.
Carlos Viana também mencionou uma pesquisa interna da comissão segundo a qual 99,5% dos supostos filiados à CBPA negaram ter autorizado qualquer desconto em seus benefícios. Ao final da sessão, o senador afirmou que a decisão simboliza uma nova fase da CPMI. “Encerramos um ciclo de impunidade e começamos o tempo da verdade, em nome dos aposentados, das viúvas, dos órfãos e da esperança que ainda vive no coração do Brasil”, declarou.
Foto: Carlos Moura/Agência Senado




